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** MEUS AGRADECIMENTOS ESPECIAIS AO DR. ALDO AMBRÓZIO QUE ORGANIZOU JUNTO AO DR. FRANCISCO E O PRIMEIRO ARRENDONDOU A DIAGRAMAÇÃO EDITORIAL NO FORMARTO KINDLE- E FEZ ALGUMAS EDITORIAS POR TÍTULOS, OBRIGADO DE CORAÇÃO.
Ao ler os originais deste
novo livro do poeta Paulo Vasconcelos, deparei-me em quatro momentos com o
verbo “assoletrar”, que me chamou a atenção por coincidir com uma linha que
vislumbrei, recentemente, no trabalho com a palavra. Em Paulo Vasconcelos, o
fazer poético é antes de tudo uma soletração da falta.
Corpo,
Mar e Faca têm como temática o potencial diálogo do
poeta consigo mesmo e com o outro, numa relação de alteridade ora conflitiva,
ora em “fusão”, e com um Outro, que não responde, uma instância maior diante da
qual se desenha (não sem raiva e fúria) silêncio e solidão.
Há
o sentimento subjacente de devastação ou da inutilidade de tudo, até mesmo de
Deus. Crueza e aspereza, corpo de desejo ardendo em intensidade selvagem e
visceral, e um repúdio por vezes expresso com as imprecações de quem conhece o
veneno destilado da boca da lacraia. Cenário humano cruel, descrito com
pinceladas fortes: “feras em delírio de humanidades”. Um Augusto dos Anjos, em
estilo contido, pulsa aqui. Um anjo pelo avesso, talvez, e com certeza ferido
em algum momento pelo excesso de luz. Um anjo a quem coube um corpo que se
soletra como “corpo de palavras esfaqueadas!”
Este corpo
é terra
alumiada em sangue
como pedra
diluída.
Há uma faca cortante atravessada entre o
corpo de gozo ou corpo de dor e o mar, promessa de expansão. É possível sentir
ou pressentir um “mar à vista”, que logo se revela ausente, distante e não
oceânico, mesmo assim um mar misterioso.
O mar é o
mar como um açude,
ou lago
vazio,
o mar é
poema que inventaste
para a
envergadura do que não sabes nem alcanças.
O mar é o
distante
em volume e
peso,
como a
semente tua
que nunca
saberás onde foi perdida
e ou
deixada.
O mar é
negro e louro,
tem cheiros
de ti do teu sal
que todo os
dias deixas
no teu
percurso que não acompanhas.
O mar és tu
também.
“O
sertão está nos mares e os mares são áridos, secos e cegos”. A poesia em Paulo
Vasconcelos tem elementos telúricos, de uma terra que é viço e paixão, mas
também pandêmica, buraco negro e luto. E para além da terra o céu é conclamado,
mas na falta absoluta de resposta a natureza o acode e o poeta se esbalda de
água. Se o batismo não vem pelo fogo, os pregos do castigo não sinalizam
redenção e só a água o redime.
Deus não
veio a mim,
e fui a
oráculos todos e reclamei,
mas os
ventos solaparam minhas preces
e
mostrou-me ajoelhado sobre pregos que não sabia,
a
tempestade veio e aliviou-me das chagas,
brindei com
a língua os solapos das águas passantes das chuvas
e confundi-me
com elas,
a água sou
eu.
O
universo poético do autor não é brincadeira, não está para o riso, antes
transita em angústias fronteiriças. Revela-se, ainda, uma forte sensualidade, rasgando a alma e marcando a
pele, sem restrições e sem medos nem peias.
Não me dê o
gênero,
dê-me o
gozo.
Nisto sou
fatal.
Palavra para
que?
Nos poemas
mais recentes, sobretudo, a temática da morte ganha sensível peso, com um toque
de despedida.
Não desdenhes do meu rosto,
pois este, posto sobre a
cama, é outro.
Não apresses minha imagem.
Sou visagem em viagem ao
nada.
Uma
poesia que, na trilha de Aldir Blanc, abre-se ao tempo, sendo esse tempo um
tempo de quem chora, de quem não zomba da dor porque a dor não passa e tem na
palavra um dardo, uma faca, mas também uma fé, que se esconde entre o simulacro
da linguagem e da busca poética como grito e anseio (pelo avesso) de revelação.
(*) Assis Lima é cearense, do Crato. Psiquiatra, poeta e pesquisador
em cultura popular. Mestre em Psicologia Social (USP). Autor do livro Conto
popular e comunidade narrativa (Prêmio Sílvio Romero – Funarte). Organizou o livro Cartas da Juventude – crônica de época, recortes autoetnográficos (1968-1977). Autor de Poemas
Arcanos, Marco Misterioso e Chão e Sonho, Terras de aluvião, Poemas de
riso e siso, O código íntimo das coisas e Breviário.
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