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domingo, 15 de junho de 2025

CORPO, MAR E FACA - POESIA - PAULO VASCONCELOS -LIVRO KINDLE -AMAZON

 

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CORPO,MAR E FACA

            Assis Lima (*)

 

Ao ler os originais deste novo livro do poeta Paulo Vasconcelos, deparei-me em quatro momentos com o verbo “assoletrar”, que me chamou a atenção por coincidir com uma linha que vislumbrei, recentemente, no trabalho com a palavra. Em Paulo Vasconcelos, o fazer poético é antes de tudo uma soletração da falta.

Corpo, Mar e Faca têm como temática o potencial diálogo do poeta consigo mesmo e com o outro, numa relação de alteridade ora conflitiva, ora em “fusão”, e com um Outro, que não responde, uma instância maior diante da qual se desenha (não sem raiva e fúria) silêncio e solidão. 

Há o sentimento subjacente de devastação ou da inutilidade de tudo, até mesmo de Deus. Crueza e aspereza, corpo de desejo ardendo em intensidade selvagem e visceral, e um repúdio por vezes expresso com as imprecações de quem conhece o veneno destilado da boca da lacraia. Cenário humano cruel, descrito com pinceladas fortes: “feras em delírio de humanidades”. Um Augusto dos Anjos, em estilo contido, pulsa aqui. Um anjo pelo avesso, talvez, e com certeza ferido em algum momento pelo excesso de luz. Um anjo a quem coube um corpo que se soletra como “corpo de palavras esfaqueadas!”

Este corpo

é terra alumiada em sangue

como pedra diluída.

 

Há uma faca cortante atravessada entre o corpo de gozo ou corpo de dor e o mar, promessa de expansão. É possível sentir ou pressentir um “mar à vista”, que logo se revela ausente, distante e não oceânico, mesmo assim um mar misterioso.

 

O mar é o mar como um açude,

ou lago vazio,

o mar é poema que inventaste

para a envergadura do que não sabes nem alcanças.

 

O mar é o distante

em volume e peso,

como a semente tua

que nunca saberás onde foi perdida

e ou deixada.

 

O mar é negro e louro,

tem cheiros de ti do teu sal

que todo os dias deixas

no teu percurso que não acompanhas.

 

O mar és tu também.

 

“O sertão está nos mares e os mares são áridos, secos e cegos”. A poesia em Paulo Vasconcelos tem elementos telúricos, de uma terra que é viço e paixão, mas também pandêmica, buraco negro e luto. E para além da terra o céu é conclamado, mas na falta absoluta de resposta a natureza o acode e o poeta se esbalda de água. Se o batismo não vem pelo fogo, os pregos do castigo não sinalizam redenção e só a água o redime.

 

Deus não veio a mim,

e fui a oráculos todos e reclamei,

mas os ventos solaparam minhas preces

e mostrou-me ajoelhado sobre pregos que não sabia,

a tempestade veio e aliviou-me das chagas,

brindei com a língua os solapos das águas passantes das chuvas

e confundi-me com elas,

a água sou eu.

 

O universo poético do autor não é brincadeira, não está para o riso, antes transita em angústias fronteiriças. Revela-se, ainda, uma forte sensualidade, rasgando a alma e marcando a pele, sem restrições e sem medos nem peias.

 

Não me dê o gênero,

dê-me o gozo.

Nisto sou fatal.

Palavra para que?

 

Nos poemas mais recentes, sobretudo, a temática da morte ganha sensível peso, com um toque de despedida.

 

Não desdenhes do meu rosto,

pois este, posto sobre a cama, é outro.

 

Não apresses minha imagem.

Sou visagem em viagem ao nada.

 

Uma poesia que, na trilha de Aldir Blanc, abre-se ao tempo, sendo esse tempo um tempo de quem chora, de quem não zomba da dor porque a dor não passa e tem na palavra um dardo, uma faca, mas também uma fé, que se esconde entre o simulacro da linguagem e da busca poética como grito e anseio (pelo avesso) de revelação.

 

(*) Assis Lima é cearense, do Crato. Psiquiatra, poeta e pesquisador em cultura popular. Mestre em Psicologia Social (USP). Autor do livro Conto popular e comunidade narrativa (Prêmio Sílvio Romero – Funarte). Organizou o livro Cartas da Juventude – crônica de época, recortes autoetnográficos (1968-1977). Autor de Poemas Arcanos, Marco Misterioso e Chão e Sonho, Terras de aluvião, Poemas de riso e siso, O código íntimo das coisas e Breviário.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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